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Conheça os 10 principais recursos enológicos utilizados pela indústria do vinho e entenda melhor a diferença entre o vinho convencional e o natural

A definição mais simples com relação ao vinho natural é: um vinho produzido com uvas limpas (sem utilização de pesticidas e herbicidas ou nenhum tipo de defensivo agrícola ou química na agricultura), fermentado com leveduras selvagens (não industrializadas) e com uma vinificação de mínima intervenção, sem utilização de correções (é tolerado a utilização de uma quantidade pequena de sulfito no final de todo processo, logo antes do envase, para preservar a segurança e qualidade do vinho).

Dito isso, nos vinhos convencionais, a lista de insumos e processos industrializados é extensa. Impressiona descobrir que diversos tipos de recursos químicos utilizados na produção de vinhos, são muito largamente utilizados na indústria de alimentos.
E, diferente dos alimentos, não é obrigatório informar no rótulo quais insumos químicos foram utilizados produção do vinho.

IMPORTANTE: o objetivo aqui não é demonizar vinho convencional. Queremos te alertar que a indústria do vinho faz uso de muitos recursos químicos massivamente utilizados na indústria de alimentos, e os enófilos provavelmente desconhecem isso.

Fazer vinho em uma escala industrial exige uma padronização. É muito comum que grandes produtores vinifiquem além das suas uvas, uvas compradas de produtores menores da região. Você acha que o DV Catena é feito apenas com uvas próprias da Catena e Zapata?
Uvas provenientes de videiras com diferentes idades, rendimento, maturação… como atingir a uniformidade do produto final?

Como tudo na vida, existem produtores que sabem fazer bom uso de recursos enológicos sem perder a identidade do trabalho da natureza. Mas digamos que… eles não são maioria.

Traremos aqui os 10 principais recursos enológicos utilizados na vinificação. Eles, na teoria, são empregados para garantir a qualidade, estabilidade e a segurança do vinho.

  1. Dióxido de Enxofre (SO₂) – Conservante e Antisséptico
    O SO₂ é um composto químico amplamente utilizado na vinificação, podendo ser adicionado na forma de metabissulfito de potássio ou gás sulfuroso.
    Função:
    Antisséptico: Inibe o crescimento de bactérias e leveduras indesejadas.
    Antioxidante: Evita a oxidação do vinho, protegendo seus aromas e sabores.
    Estabilizante: Contribui para a longevidade do vinho, evitando defeitos microbiológicos.
    Uso na produção: O SO₂ pode ser adicionado desde a colheita até o engarrafamento, em doses controladas.
  1. Clarificantes – Remoção de Impurezas
    São substâncias usadas para remover partículas suspensas no vinho, resultando em maior limpidez e estabilidade.
    Principais clarificantes e suas funções:
    Bentonita (argila): Remove proteínas instáveis, evitando turbidez.
    Albumina (clara de ovo): Absorve taninos em excesso, suavizando o vinho.
    Gelatina: Age na precipitação de partículas suspensas.
    Caseína (proteína do leite): Remove compostos fenólicos indesejáveis, prevenindo oxidação.
    Uso na produção: Aplicados antes do engarrafamento, após a fermentação ou no estágio de maturação.
  1. Estabilizantes – Controle da Cristalização e Turbidez
    Substâncias usadas para evitar instabilidades químicas e físicas no vinho.
    Principais tipos e suas funções:
    Ácido metatartárico: Impede a formação de cristais de bitartarato de potássio.
    CMC (Carboximetilcelulose): Previne precipitações tartáricas.
    Goma arábica: Melhora a textura e estabiliza compostos colorantes em vinhos tintos.
    Uso na produção: Normalmente aplicados antes do engarrafamento para manter o vinho límpido e estável na garrafa.
  1. Leveduras Industrializadas – Fermentação Controlada
    Leveduras selecionadas (Saccharomyces cerevisiae e outras espécies) adicionadas ao mosto para garantir uma fermentação consistente.
    Função:
    Controle do perfil aromático e de sabor.
    Aprimoramento da eficiência da fermentação.
    Redução do risco de fermentações problemáticas.
    Uso na produção: Podem ser adicionadas secas ou reidratadas, conforme as características desejadas para o vinho.
  1. Emulsificantes – Textura e Estabilidade
    Substâncias que melhoram a textura e homogeneização do vinho.
    Exemplos e funções:
    Lecitina: Melhora a estabilidade do vinho, reduzindo defeitos organolépticos.
    Glicerol: Aumenta a sensação de corpo e maciez no paladar.
    Uso na produção: Aplicados durante a finalização do vinho para ajuste sensorial
  1. Enzimas – Aceleração de Processos Bioquímicos
    Pectinases: Ajudam na extração de cor e clarificação do vinho.
    Glucanases: Melhoram a filtrabilidade de vinhos brancos.
    Uso na produção: Aplicadas na maceração ou clarificação para otimizar rendimento e extração.
  1. Corretores de Acidez – Ajuste do Equilíbrio Sensorial
    Ácido tartárico, málico e cítrico: Ajustam a acidez natural do vinho.
    Carbonato de cálcio: Reduz a acidez excessiva, especialmente em regiões de clima frio.
    Uso na produção: Adicionados antes ou durante a fermentação para equilibrar o pH do vinho.
  1. Gases Inertes – Proteção Contra a Oxidação
    Gás carbônico (CO₂): Mantém frescor e proteção contra oxidação.
    Nitrogênio (N₂) e argônio (Ar): Utilizados no envase para evitar contato do vinho com oxigênio.
    Uso na produção: Aplicados no engarrafamento e armazenamento para garantir frescor.
  1. Edulcorantes – Ajuste de Doçura
    Mosto concentrado retificado (MCR): Açúcar neutro usado para ajustar doçura.
    Sorbitol: Em alguns vinhos específicos, para modificar sensação gustativa.
    Uso na produção: Regulamentado e utilizado em alguns vinhos comerciais.
  1. Filtragem e Microfiltragem – Purificação do Vinho
    Filtração tangencial e por membrana: Removem impurezas e microrganismos indesejáveis.
    Uso na produção: Antes do engarrafamento para garantir pureza microbiológica.

Esses são apenas alguns dos mais conhecidos exemplos de recursos enológicos utilizados na produção de vinhos. Como diria o médico e físico suíço-alemão Paracelso, no século XVI: “A diferença entre o remédio e o veneno está na dose.”


Você sabia que a produção de vinhos convencionais faz uso de tantos recursos da indústria de alimentos? Cabe ao enófilo confiar na mão do enólogo?